quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Noticia publicada no JN

Quando se acorda para ser mãe aos 12
Fundação da Juventude ajuda adolescentes a adaptar-se a mudança

2008-11-16
MARTA NEVES

A Fundação da Juventude, no Porto, acolhe jovens mães adolescentes, com idades entre os 12 e os 21 anos. No primeiro ano de balanço da Comunidade de Inserção Engenheiro Paulo Vallada, a dificuldade maior passa por "falta de pessoal técnico".
"A falta de recursos humanos, aliada à escassez de recursos materiais é a nossa maior dificuldade. Não temos pessoal que chegue para acompanhar as jovens aos hospitais, às consultas e aos tribunais", desabafou ao JN a psicóloga e directora técnica da comunidade Paula Leal. Ainda assim, num núcleo formado por adolescentes, entre os 12 e os 21 anos, em situações de risco, decorrentes de abandono, maus tratos ou negligência, a "fase mais complicada passa pela adaptação das jovens".

"É difícil fazer com que elas adiram ao nosso projecto. Estão cá obrigadas, contidas, retiradas da família. Portanto, há uma adesão superficial, mas uma interiorização muito lenta. Há que ver que ainda passou pouco tempo", afirmou Paula Leal, acrescentando: "A nossa satisfação passa pelo que podemos dar a estas crianças/mulheres, como o suporte ou cuidados, como condições para que possam andar".

No hall de entrada de um edifício, a meio da Rua das Flores, prepara-se uma venda de Natal (ler texto em cima). Uns patamares acima há a agitação típica de uma casa constituída por uma grande família. Na verdade, na Comunidade de Inserção Engenheiro Paulo Vallada estão "alojadas" 16 pessoas: sete mães adolescentes e nove crianças. Neste texto, todos terão nomes fictícios. Compreensivamente. Pedro aprendeu a andar aos sete meses e já percorre os corredores da casa quase de olhos fechados. Olha para trás enquanto fita uma assistente que anda numa lufa-lufa a fazer as camas de lavado. Cada quarto tem um nome de flor: violeta, ciclame. Patrícia tem o quarto virado do avesso. A mãe de Guilherme, de oito anos, e de Liliana, de seis, tem agora 21. De aspirador na mão valoriza a experiência na comunidade. "Aprendemos a ser autónomas", diz. A menina/mulher, que foi mãe pela primeira vez aos 13 anos e a segunda aos 15, recorda que "foi muito complicado no início", quando se viu "sozinha com dois filhos nos braços". Mas, agora, assegura que "a vida sem eles não tem sentido".

Tudo nesta casa está pensado ao detalhe. Há salas de formação (educação para a maternidade e gestão doméstica), cozinha, despensa e sala de convívio. Até um quarto de banho preparado para os mais pequeninos.

Enquanto Sílvia e Joana estendem a roupa ao sol, Tiago, que ainda não tem dois meses, refila de olhos fechados com um sonho. Na Comunidade de Inserção há uma mãe que já está na escola e outras "em formação de competências mais pessoais para depois frequentarem cursos profissionais". Na casa, o movimento é rotativo. Entram umas e saem outras. A Segurança Social estipulou que o tempo máximo de estadia na comunidade é de 18 meses.

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